segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A propósito das Malditas Heranças

O blog Pais de Quatro anda em divagação sobre o tema heranças e eu tenho acompanhado mas de "longe".
Cada vez que tento escrever um comentário, acho que excederia o número de caracteres permitidos.

Este é um assunto que me dá a volta às tripas porque já me morderam os calcanhares.

(grande frase! - Ou não)

Não me dou às dores por me sentir lesada num processo de partilhas. Os meus pais cá andam como jovens, a minha irmã e eu ainda não vemos esse cenário nem perto nem longe, se o víssemos, não nos chatearíamos por nada disso até porque, o património dos meus pais resume-se quase a umas colchas para a cama de casal e essa mesma cama que têm desde que casaram há quase 30 anos.

Mas quando digo que já senti os calcanhares mordidos tem a ver com pessoas próximas, principalmente os casos das minha avós, ambas com muitos filhos (uma com 6 e outra com 8).

É triste que todos os filhos tenham que ser iguais perante a lei. É triste que numa família de 8 irmãos, apenas 4 se cheguem para cuidar da sua mãe, sendo que duas dos restantes já não sabem absolutamente nada sobre a sua mãe há mais de 10 anos (e uma mora na mesma rua a 200 metros e outra a 2 Kms).

O Direito não vê histórias. Mas também não vê factos.

E devia ver porque herdar o que é dos pais, não devia ser um direito mas sim um agradecimento e recompensa pelo trabalho. Como qualquer outra coisa na vida.

Por isso cá vai uma história.

Uma senhora ficou viúva há mais de 30 anos. No ano após perder o marido, perde um dos seus 8 filhos com 18 anos num trágico acidente de mota à porta de casa.
Essa senhora luta desmedidamente para dar a carta de condução a cada um dos filhos, cria condições para que cada um deles consiga ter o seu próprio negócio com excepção de um deles que, pela morte do irmão (mais próximo) desenvolveu gaguez e uma série de problemas psicológicos (eu atrevia-me a dizer psiquiátricos mas que não foram tratados como tal). Sim, este era o orgulho da senhora: deu carta de condução a todos os filhos e todos tinham trabalho.

Viúva e sozinha, não muito diferente da época antes da morte do marido que emigrou para a Venezuela e vinha cá para visitar a mulher e lhe deixar mais um filho na sua barriga, continuou a trabalhar.

Trabalhou sempre, mesmo depois de lhe ter sido diagnostico problemas cardíacos, depois a osteoporose, e mais tarde até mesmo um cancro nos intestinos. Ah... Sim, esqueci-me de referir qual era o seu trabalho. Era vendedora ambulante de frutas, legumes e mercearia e como o seu trabalho permitia grandes horas de lazer, tinha como hobbies os trabalhos agrícolas, cuidar de porcos, vacas, coelhos, galinhas e às vezes patos e porquinhos da índia.

Aos 78 foi submetida uma cirurgia para remover o maldito cancro que apareceu nos intestinos mas ao final de uma semana, com alguns pontos ainda, lá andava ela na sua faina: animais, campo, trabalho, animais e dormir.

Infelizmente aos 80 anos começamos a ouvir:
"Tive 8 filhos, dei carta a todos e consegui por todos a trabalhar..."
"Tive 8 filhos, dei carta a todos e consegui por todos a trabalhar..."
"Tive 8 filhos, dei carta a todos e consegui por todos a trabalhar..."

E a história repetia-se mas cada vez mais curta. Até que rogamos pragas ao maldito Alzheimer por ter nascido e ter vindo dar o nome a esta doença (claro, eu sei, que se não fosse ele, ...)

E é assim. Hoje, com 83 anos, e todo este historial. É assim que quatro dos seus filhos cuidam desta senhora que durante anos e anos não esboçou um sorriso porque era dura demais para isso, até para um sorriso.

Os outros 4?
Um filho ficou lá trás na história...
Duas filhas há mais de 10 anos que guardam a melhor das recordações da minha avó, uma mulher cheia de vida e força (essencialmente para trabalhar e fazer crescer o património que estas vão herdar). Não sabem mais nada porque ouve uma dita bruxa/cartomante/qualquer-m*rda que lhes disse que a minha avó lhes queria muito mal... Mentes fracas!
E o outro, infelizmente mostra agora que os problemas psicológicos (volto a reforçar psiquiátricos na minha opinião) não ficaram resolvidos e impedem-no de ver as coisas como um homenzinho.

E é assim, na hora em que aquele coração fraquinho não conseguir resistir mais ao senhor Alzheimer, às tromboflebites e aos desgostos que carrega naquela alma, todos se apresentam para dividir as 16 galinhas que ainda restam à minha avó. 2 galinhas a cada um. Mas como um dos filhos se adiantou e já cá não está, e como a sua herdeira seria a própria mãe, ainda haverá duas galinhas que vão ter que ser distribuídas pelos restantes sete irmãos.

Temos que averiguar o preço por Kg dos peitos, coxas e miúdos para fazer uma distribuição tão equitativa quanto a nossa lei obriga.

Não importa quantas canjas de galinha cada filho deu a comer à sua mãe depois desta estar desabilitada a cozinhar...


1 comentário:

  1. É por estas e outras que já avisei os meus pais que não quero saber de heranças para nada. o que tiverem que me dar que me dêem agora em vida. porque depois não estou para me chatear com uma irmã que tenho, mas que é como se não tivesse e que só vê€ à frente....
    Parabéns pelo texto.

    Jinhooooossssss

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